Na década de 1880, o governo da dinastia Qing enviou oficiais e marinheiros da Frota Beiyang à cidade de Newcastle, no Reino Unido, para receber quatro cruzadores, entre eles o Zhiyuan. Devido à longa viagem e à adaptação difícil ao clima e alimentação, alguns marinheiros adoeceram e faleceram em solo estrangeiro, sendo sepultados no cemitério St. John’s, em Newcastle. Anos atrás, com apoio financeiro da Fundação Chinesa para a Proteção de Relíquias Culturais, os túmulos desses marinheiros foram restaurados. Em entrevista recente, Qi Yongqiang, presidente da Fundação para a Proteção de Vestígios da Frota Beiyang no Reino Unido e da Associação de Empresários Chineses do Norte do Reino Unido, discute sobre os laços históricos entre a frota e o país, bem como sobre as trocas sino-britânicas.
Qi Yongqiang explicou que a Frota Beiyang, também conhecida como Marinha Beiyang, começou a ser formada na década de 1870, quando o governo Qing iniciou a ampliação de sua esquadra, comprando navios de guerra do Reino Unido e da Alemanha. Entre 1876 e 1911, o governo Qing adquiriu 19 navios da empresa Armstrong Whitworth, sediada em Newcastle, e encomendou outros três navios-patrulha para o serviço alfandegário chinês, totalizando mais de 24 mil toneladas de deslocamento. No auge da frota, cerca de 25 embarcações estavam ativas, sendo a maioria construída em Newcastle, incluindo os cruzadores Chaoyong, Yangwei, Zhiyuan e Jingyuan.
Em 1881, mais de 200 marinheiros foram enviados a Newcastle para receber os cruzadores Chaoyong e Yangwei, fabricados pela Armstrong. Em 1887, centenas de membros da frota retornaram à cidade para buscar os navios Zhiyuan e Jingyuan. Durante essas viagens, os marinheiros se exercitavam, os oficiais recebiam treinamento e as tripulações se familiarizavam com os novos navios, uma experiência crucial para o fortalecimento da capacidade de navegação de longo alcance da frota. Em ambas as missões, os tripulantes permaneceram cerca de três meses em Newcastle. Nesse período, seis marinheiros faleceram e foram sepultados no cemitério local de St. John’s, formando o que hoje se conhece como o Memorial dos Marinheiros da Frota Chinesa Beiyang em Newcastle.
“O projeto do Memorial dos Marinheiros da Frota Chinesa Beiyang começou em 2016”, relatou Qi Yongqiang. “Na época, um estudante chinês publicou na internet uma foto mostrando as lápides tombadas, o que gerou grande repercussão. Após apurar os fatos, iniciamos, em parceria com a Fundação Chinesa para a Proteção de Relíquias Culturais, um projeto de restauração de cinco túmulos. Recebemos apoio dos departamentos responsáveis da prefeitura de Newcastle, que nos ajudaram a localizar arquivos históricos, indicar empresas especializadas e oferecer orientações jurídicas. Em junho de 2019, realizamos a cerimônia de conclusão no memorial, com a presença de vereadores municipais e distritais, do prefeito, da representante da rainha e de membros da Marinha Britânica, que discursaram e depositaram flores.”
“Também colaboramos com museus locais, arquivos históricos e órgãos de preservação de patrimônio para pesquisar documentos relevantes. Por exemplo, parte das plantas originais dos navios Zhiyuan e Jingyuan foi descoberta em arquivos da cidade durante esse período, sendo a primeira vez em mais de um século que tais documentos foram encontrados no exterior. Em julho de 2025, graças à nossa iniciativa, a Escola de Negócios da Universidade de Newcastle, o Instituto Confúcio da mesma universidade e a Universidade de Xiamen organizaram conjuntamente, em Newcastle, o primeiro simpósio internacional sobre o legado da Frota Beiyang fora da China. O evento contou com o forte apoio da prefeitura local, museus e outras instituições. Cerca de 20 professores e doutores da China e do Reino Unido fizeram palestras temáticas, além de visitas e discussões no local. A repercussão foi extremamente positiva”, afirmou Qi Yongqiang.