Reconhecida como o mais alto nível de evento internacional multiesportivo para modalidades não olímpicas, a 12ª edição dos Jogos Mundiais 2025, também conhecido como “Jogos Mundiais de Chengdu”, está sendo realizada em Chengdu, na província de Sichuan. Quando surgiram os Jogos Mundiais? Qual a relação deles com os Jogos Olímpicos? De que forma contribuem para a diversidade e o desenvolvimento do esporte global? Em entrevista, Song Xiuping, vice-diretora da Escola de História e Cultura do Esporte da Universidade de Esportes de Chengdu, vice-diretora do Instituto de História do Esporte e especialista do think tank de alto nível da Administração Geral dos Esportes da China, apresenta sua análise.
Segundo Song Xiuping, nos anos 1970, algumas federações internacionais de modalidades esportivas, devido às limitadas chances de inclusão de suas provas no programa olímpico, começaram a idealizar a criação dos Jogos Mundiais.
Em 21 de maio de 1980, federações internacionais de 12 modalidades (entre elas badminton, beisebol, boliche e caratê) fundaram, na Coreia do Sul, a Associação Internacional dos Jogos Mundiais (IWGA).
Organizados por essa associação, os Jogos Mundiais têm como foco principal as modalidades não olímpicas. O evento é realizado a cada quatro anos, geralmente no ano seguinte aos Jogos Olímpicos.
A primeira edição ocorreu em 1981, em Santa Clara, Califórnia (EUA), reunindo atletas de mais de 50 países e regiões.
De Santa Clara a Chengdu, o percurso de 44 anos pode ser dividido em três fases: desenvolvimento inicial, promoção global (expansão) e transformação modernizadora.
De 1981 a 2000, os Jogos Mundiais viveram a fase inicial, com escala reduzida e modalidades mais voltadas à demonstração e ao entretenimento. Em 1989, na terceira edição, na Alemanha, cidadãos comuns foram convidados a participar das competições, criando a primeira interação direta entre o evento e a população local. A partir daí, a integração entre competições, atletas e cidade-sede tornou-se tradição.
Entre 2000 e 2016, teve início a fase de promoção global. Nesse período, a Associação Internacional dos Jogos Mundiais assinou dois memorandos de cooperação com o Comitê Olímpico Internacional, ingressando oficialmente na “família olímpica”.
Em 2001, a sexta edição foi realizada em Akita, Japão, sendo a primeira vez fora da Europa e América do Norte. No ano de 2013, em sua nona edição na Colômbia, o evento chegou à América do Sul.
De 2016 até hoje, os Jogos Mundiais entraram na fase de transformação modernizadora. A escala e a estrutura do evento foram aprimoradas, com maior foco na digitalização e na sustentabilidade, incluindo a criação de uma plataforma online para ações sociais, reforçando a atenção tanto ao meio ambiente quanto à responsabilidade social.
Song Xiuping destacou que, realizados pela primeira vez no século XX, cerca de 80 anos após os Jogos Olímpicos modernos, os Jogos Mundiais são, em escala e número de atletas, como um “irmão mais novo” das Olimpíadas.
Enquanto os Jogos Olímpicos reúnem apenas membros do COI, os Jogos Mundiais funcionam como um grande palco para a cultura esportiva global, com posicionamento único e mecanismos inclusivos, promovendo a diversidade cultural no esporte mundial.
Após quase meio século, embora haja intercâmbio de modalidades e atletas entre os dois eventos, os Jogos Mundiais não funcionam como um “reservatório” de esportes para os Jogos Olímpicos nem como um “incubador” de novas modalidades olímpicas, e sim como um complemento a elas.
Desde sua criação, o programa olímpico foi dominado por esportes de origem ocidental. Para que modalidades de outros países ou regiões sejam incluídas, é necessário um processo de modernização e adaptação às regras olímpicas, o que muitas vezes implica conciliar padrões olímpicos com características culturais tradicionais.
É justamente nesse ponto que reside o valor dos Jogos Mundiais: proteger culturas esportivas tradicionais em risco de desaparecimento, oferecer um espaço para o crescimento e a exibição de novas modalidades e, por meio de práticas de “esporte inclusivo”, promover igualdade e inclusão social, impulsionando a diversidade do esporte global e concretizando a visão de que “o esporte pertence a todos”.