Com 36 anos, Saulo Gonçalves da Silva, de Minas Gerais, Brasil, é doutorando da Faculdade de Engenharia Civil e Hidráulica da Universidade de Ciência e Tecnologia de Huazhong (HUST, sigla em inglês). Nove anos se passaram desde que ele chegou à China.
Como de costume, Saulo vestiu uma camisa lisa e calça jeans e pediu uma tigela de Reganmian, um tipo de macarrão local com gergelim. Em seguida, pegou o metrô em sua casa rumo à HUST, no outro lado de Wuhan. Ele já estava familiarizado com aquele trajeto, que cruza o rio Yangtze, tornando-se parte de sua rotina na China.
O vínculo de Saulo com a China se iniciou durante sua graduação. Em 2013, enquanto cursava engenharia mecânica na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), foi inaugurado o Instituto Confúcio UFMG, fruto da parceria entre a UFMG e a HUST. Essa nova ponte cultural despertou nele um profundo interesse pela língua chinesa.
"Aprender um idioma possibilita conhecer realmente o país por trás dele", disse Saulo. Movido por essa ideia, ele embarcou na viagem para Wuhan, Província de Hubei, no centro da China, em agosto de 2016.
Ao chegar, a imagem da metrópole moderna chinesa impressionou-o: redes de metrô convenientes, ruas seguras, e internet eficiente disponível por toda parte. Essas percepções vívidas dissiparam suavemente sua inquietação em um país desconhecido.
Para ele, o verdadeiro desafio foi a jornada acadêmica. Os anos de doutorado na HUST equivaleram a uma maratona árdua. "O doutorado tem padrões muito exigentes", disse ele. As barreiras linguísticas, as diferenças culturais e as pesadas tarefas de pesquisa mergulharam-no várias vezes em momentos de incerteza.
Felizmente, recebeu ajuda e orientação acadêmica do seu orientador, o professor Shen Wen'ai. No laboratório, Shen frequentemente designava alunos de mestrado para auxiliá-lo na realização dos experimentos. "Às vezes sinto que eu é que sou o assistente deles", disse Saulo, notando que a dedicação e o foco demonstrados por esses colegas chineses o inspiram constantemente, mantendo-o diligente no caminho acadêmico.
Sua pesquisa é voltada ao controle de vibração de cabos de pontes estaiadas. Como membro da equipe do Shen, ele participou do projeto de vibração da Ponte de Beikou de Wenzhou, na Província de Zhejiang. Localizada em uma área típica de tornados, a ponte enfrentava altos riscos de vibração. O grupo foi chamado para verificar o risco de vibração para a estrutura. "Ver minha direção de pesquisa aplicada diretamente na prática da engenharia, protegendo estruturas e pessoas, fortaleceu muito minha confiança na direção do meu estudo", afirmou Saulo.
Segundo ele, as diferenças entre a China e o Brasil não são barreiras, mas sim uma perspectiva única própria de observação do mundo, permitindo-lhe compreender mais profundamente o conceito chinês de "harmonia na diversidade". "Considerando a intensidade do café e a delicadeza do chá chinês, cada um tem sua beleza, e eu aprecio ambos", destacou Saulo, acrescentando que adaptar-se e apreciar as diferenças entre as culturas brasileira e chinesa tornou sua vida na China ainda mais multidimensional.
Em setembro deste ano, seu irmão visitará Saulo à China. Este já selecionou uma rota de visita, incluindo a cidades como Wuhan, Changsha e Nanjing. "A China está passando por mudanças, desenvolvimento e atualização, tudo em rápido progresso. Quero que meu irmão também possa sentir a alegria de viver na China e entrar em contato com essa cultura mais diversificada", explicou.
Aos olhos dele, nove anos transformaram o estrangeiro em um "quase um local", converteram o "chinês de conhecimento didático" em forma de pensar, e fizeram da China, antes um país distante no mapa, uma segunda terra natal no coração.
Atualmente, Saulo está nos estágios finais de revisão de sua tese de doutorado. "No futuro, quero continuar trabalhando na China, construindo pontes para o intercâmbio científico e tecnológico entre Brasil e China", disse ele.