O mausoléu das “Tumbas Imperiais do Período Xia Ocidental” foi recentemente inscrito na Lista do Patrimônio Mundial, tornando-se o 60º patrimônio da China reconhecido pela UNESCO. Por ocasião do sucesso na candidatura, Chen Tongbin, reitor honorário do Instituto de Pesquisa em História da Arquitetura do Instituto de Pesquisa e Projeto de Arquitetura da China, e responsável pela equipe consultiva do projeto, concedeu uma entrevista exclusiva ao WE-TALK, detalhando o valor do sítio arqueológico.
Chen explicou que o mausoléu é um conjunto de tumbas imperiais da dinastia Xia Ocidental (1038-1227), fundada pelo povo Tangute no noroeste da China entre os séculos XI e XIII. Está localizado na encosta leste da parte sul do monte Helan, importante divisor geográfico natural, abrangendo uma área de quase 40 km², sob jurisdição da cidade de Yinchuan, na Região Autônoma da Etnia Hui de Ningxia.
Segundo Chen, os elementos patrimoniais que sustentam o valor histórico desse mausoléu dividem-se em duas categorias principais: elementos artificiais e naturais. Entre os artificiais destacam-se 9 tumbas imperiais, 271 sepulturas anexas, 5,03 hectares de ruínas arquitetônicas na extremidade norte, além de 32 estruturas de obras contra enchentes. O sítio também revelou mais de 7.100 artefatos preservados em acervo e inúmeros fragmentos arquitetônicos. Os elementos naturais incluem o imponente monte Helan, os leques aluviais em sua base, a vasta e árida paisagem do deserto de Gobi e a vegetação desértica típica das regiões secas do norte da China. Ambos os conjuntos natural e artificial estão profundamente conectados tanto no plano visual quanto na dimensão espiritual.
Chen destacou dois principais valores do mausoléu. Primeiro, ele constitui o maior, mais bem preservado e de mais alto nível entre os vestígios arqueológicos remanescentes da dinastia Xia Ocidental, oferecendo testemunho insubstituível sobre esse reino que durou quase 200 anos e sobre a linhagem de seus monarcas. Comprova, também, o papel estratégico da dinastia como ponto de conexão na Rota da Seda. Segundo, a localização, organização espacial, rituais funerários, técnicas construtivas e costumes mortuários refletem um cenário de trocas e fusões culturais entre as populações do planalto Mongol e do planalto Tibetano, tendo como centro a planície Ningxia, sendo uma interação baseada na convivência de diferentes etnias, modos de vida e culturas. O sítio representa, assim, a formação da comunidade nacional chinesa e as características fundamentais da civilização chinesa.
Chen ressaltou ainda que o mausoléu ilustra uma fusão criativa entre o sistema funerário das dinastias Tang e Song e as crenças religiosas do povo Tangute, expressando uma dinâmica regional de intercâmbio e inovação de valores humanos.
Para ele, os inúmeros e variados artefatos encontrados são um reflexo vívido do alto nível técnico e artístico da dinastia Xia Ocidental. Os componentes arquitetônicos, porcelanas, objetos de ferro e bronze escavados revelam técnicas sofisticadas, como o uso de telhas vidradas, porcelanas esculpidas em esmalte branco e marrom, além de habilidades avançadas em fundição de metais. Um dos destaques é o Chiwen (ornamento de telhado em forma de criatura mitológica) de vidrado verde encontrado no túmulo nº 6, um dos mais completos já descobertos da China Antiga. Moedas, sedas, joias e adornos em ouro e prata também foram achados nos túmulos, demonstrando o florescimento comercial da época e servindo como prova concreta da prosperidade econômica regional. Como participante ativo das trocas comerciais ao longo da Rota da Seda, a dinastia Xia Ocidental teve papel importante nessa via milenar que ligava o Oriente e o Ocidente da Eurásia, posição comprovada pelos vestígios históricos ali encontrados.