Guilherme Paladino na região do Xinjiang. Fonte: Reprodução Youtube
Em edição recente do programa Boa Noite 247, o jornalista Guilherme Paladino relatou ao jornalista Leonardo Sobreira sua experiência em Xinjiang, região autônoma no noroeste da China, frequentemente associada a denúncias de violações de direitos humanos. O vídeo, disponível no canal da TV 247 no YouTube sob o título “Tudo o que você precisa saber sobre o Xinjiang”, oferece um contraponto baseado em observação direta e presença local, abordando os aspectos políticos, religiosos e culturais da região.
Paladino visitou Xinjiang como parte de uma viagem de campo. “Foi uma das viagens mais bacanas que eu já fiz. Muito diferente do que se vê em outras partes da China, mas ao mesmo tempo, ainda claramente China”, destacou.
Expectativa versus realidade: o que Paladino encontrou em Xinjiang
O jornalista afirmou ter sido surpreendido pela urbanização e vitalidade da região. “Eu imaginava que Xinjiang fosse mais rural, mais isolada. Mas cheguei lá e encontrei cidades modernas, com fast food, shopping, vida noturna ativa. Em Korla, por exemplo, você sai às 10h30 da noite e tem gente dançando na praça, com música árabe”, descreveu.
Xinjiang, com seus 25 milhões de habitantes, é composta majoritariamente por pessoas da etnia uigur, de religião muçulmana. Paladino destacou que há mais de 24 mil mesquitas na província – uma para cada 500 muçulmanos – e que os idiomas locais, como o uigur, são amplamente utilizados, inclusive em placas de rua e conversas cotidianas.
“Eu estava com amigos chineses da etnia han e eles não entendiam o que os uigures falavam. Isso mostra o quão diferente é o idioma local”, observou. Para ele, o contraste entre o que viu e as narrativas ocidentais é gritante: “As pessoas estavam livres, dançando na rua à noite, indo ao bar, comendo churrasquinho. Onde está a opressão tão falada?”.
A controvérsia sobre “apagamento cultural”
Questionado sobre as denúncias de repressão cultural e religiosa feitas contra o governo chinês, Paladino foi cauteloso, mas crítico em relação à cobertura internacional. “Essas denúncias começaram por volta de 2017 ou 2018 com base em relatórios pouco conclusivos da ONU. Não estou dizendo que não há tensões, mas o que vi não condiz com a narrativa de genocídio cultural”, afirmou.
Para ele, parte das transformações observadas é explicável por um processo global: “Todo processo de modernização envolve mudanças culturais. Isso não é exclusivo da China. A globalização promove uniformizações culturais em todo o mundo, como já denunciava Milton Santos”.
Paladino também comparou a situação à de outros países: “Os Estados Unidos acusam a China de reprimir muçulmanos, mas qual é o tratamento que eles mesmos dão aos muçulmanos, dentro e fora de seu território? Invadem países, destroem mesquitas e universidades. O Brasil respeita as línguas indígenas? É uma questão muito mais complexa do que pintam”.
Complexidade geopolítica e importância estratégica
Durante o programa, Paladino ressaltou a posição geográfica de Xinjiang, fronteiriça a oito países, incluindo Afeganistão, Cazaquistão, Índia e Rússia. “É uma região estratégica para a China, tanto economicamente quanto simbolicamente, por estar na rota da Nova Rota da Seda e ser um elo com a Ásia Central e a Europa”, disse, destacando também a diversidade étnica e religiosa que a compõe.
Ele explicou ainda que o crescimento da população da etnia han na região se deve à maior integração econômica e ao surgimento de novas oportunidades de trabalho. “Hoje há empresas, ferrovias, aeroportos, polos solares... É natural que haja movimento populacional. Isso não é necessariamente opressão, é desenvolvimento”.
Conclusão: a importância da presença local
A participação de Guilherme Paladino no programa reforça o papel do jornalismo de campo em desconstruir estereótipos e investigar narrativas complexas. “Eu fui esperando ver tensão, repressão, e encontrei uma cidade viva, com população diversa, falando livremente seu idioma, expressando sua fé. Isso não quer dizer que não haja questões a discutir, mas a realidade é mais plural do que a propaganda faz parecer”, finalizou.