Formado em 2003 e oriundo da Mongólia Interior, o grupo de música tradicional AnDa Union é atualmente uma das poucas bandas chinesas que conseguiu se inserir com sucesso no mercado internacional. Sua proposta artística combina elementos de patrimônios culturais imateriais com uma abordagem inovadora. Antes mesmo de ganhar notoriedade nacional por meio de programas de variedade, AnDa já havia conquistado reconhecimento global por meio de turnês e intercâmbios culturais. Recentemente, o grupo concluiu sua 11ª turnê pela América do Norte, passando por mais de dez cidades nos Estados Unidos e no Canadá. Em Toronto, última parada da viagem, o líder Nars, a vocalista Tsetsegmaa e o músico Chinggel concederam uma entrevista na qual falaram sobre o estilo do grupo, o reconhecimento do público estrangeiro e reflexões sobre a herança e o desenvolvimento da música tradicional.

Nars explicou: “Em apresentações no Ocidente, o público nem sempre entende a letra, mas fazemos uma introdução das canções e, com a ambientação musical, criamos um mundo simbólico. A canção folclórica é fortemente ligada à língua étnica. A maioria de nossas músicas é cantada em mongol. Traduzir ou adaptar letras é uma forma de dar nova vida à música, e faz parte do processo de criação artística. Em nossas apresentações, é a música que fala por si e conduz o público à compreensão do nosso universo sonoro.”

Para Nars, o grupo não precisa se encaixar em um único estilo. Apesar de utilizarem instrumentos tradicionais, eles foram modernizados ao longo das gerações. O morin khuur (violino “cabeça de cavalo”), por exemplo, passou por diversas melhorias técnicas. A música tradicional não se limita a uma “roupagem moderna”, mas está de fato viva e presente no tempo atual, mantendo diálogo, contraste e ressonância com outras linguagens musicais do mundo.

Segundo ele, o caminho do grupo AnDa é seguir uma trilha própria, preservando a essência de seu estilo, mas ao mesmo tempo evitando o apego excessivo à tradição. “É preciso absorver influências de outras músicas do mundo, enriquecer nossa sonoridade e cativar públicos diversos.”

Tsetsegmaa destacou que o mais marcante na música mongol são o ritmo e a melodia. Para ela, além de se apresentar e tocar, o músico deve estar em constante aprendizado, nutrido pelo solo fértil da arte.

Na visão de Chinggel, os jovens de hoje já não veem a música tradicional como “ultrapassada”. “A harmonia complexa, por exemplo, já existia há muito tempo nas músicas tradicionais. Acredito que, se continuarmos nesse caminho, mais pessoas irão se encantar.”

Tsetsegmaa acrescentou: “Já formamos várias  turmas de Transmissão e Inovação em Música Tradicional do AnDa na Academia de Artes da Mongólia Interior. Após três ou quatro anos de estudo, os alunos desenvolvem uma ligação mais profunda com os cantos longos e as canções folclóricas. Em minha turma de Herança Musical de Hulunbuir, ensino cinco estilos musicais distintos e línguas étnicas diferentes. O professor é sempre exemplo para os alunos. Ter viajado por tantos países amplia nossa visão de mundo, e isso é essencial para a formação dos jovens.”

Nars observou ainda que, embora o foco esteja nas raízes, os jovens pensam sobre a música com um olhar contemporâneo. A música tradicional, por vezes distante do mercado, precisa de pontes com o presente, e é isso que o AnDa busca: conectar o tradicional ao público jovem, dar nova forma ao antigo e revelar seu valor.

“Temos ainda muito a explorar. Tomemos os instrumentos: muitos dos nossos ainda carecem de estabilidade em comparação aos ocidentais. Mudanças de temperatura e geografia durante as turnês podem causar desafinações. No futuro, a fabricação de instrumentos tradicionais será cada vez mais padronizada, e isso tornará nossa música ainda mais rica e completa”, concluiu Nars.